O que queres ser quando fores grande? Frase dezenas de vezes ouvida quando criança. Pergunta feita por pais, tios, padrinhos, até mesmo desconhecidos, com quem nos cruzávamos na rua. O céu parecia o limite e julgávamo-nos capazes de conciliar um sem número de artes. O que me impediria de ser costureira, cabeleireira ou médica pediatra, durante o dia, e, à noite e fins de semana, ser uma cantora de sucesso com milhares de fãs? O que me impediria de ser bombeiro ou um renomado jogador de futebol, enquanto era médico ou, até mesmo, astronauta? Todos podíamos ser super-heróis, com um futuro brilhante pela frente, num mundo onde não existiam vilões. Tudo era possível, bastava apenas acreditar e sonhar.
A questão é que o tempo passa e escolhas têm que começar a ser feitas… A pressão da família, dos pares e a pressão que colocámos sobre nós mesmos começa. As expetativas de todos são elevadas e não os queremos desiludir. Vou para letras ou prefiro a matemática? E depois a temível escolha… Prossigo estudos e serei um futuro doutor ou engenheiro, até porque os meus pais, sempre me falaram do valor do “canudo”, ou opto por uma carreira mais técnica como mecânico, soldador, modelista de vestuário ou esteticista? Tantas questões e tantas dúvidas. Como devo saber e escolher o que vou fazer para o resto da vida se nunca experimentei nada e nunca trabalhei? Há quem acerte à primeira e se sinta realizado com a profissão que escolheu às cegas, há quem perceba que a visão que tinha sobre determinada profissão era romantizada e nada tem a ver com a realidade, o que faz com que todas as suas aspirações caiam por terra e a reinvenção se torna um processo difícil e moroso. Há quem, ainda no decorrer do curso perceba que fez a escolha errada e tranquilamente mude de direção e escolha outro caminho. Há quem termine os seus estudos, julgando que aquela é a profissão ideal para si até que, um dia mais tarde, por contingências da vida, se vê obrigado a desempenhar uma função diferente e descubra uma nova paixão. As possibilidades são infinitas, até porque, no fundo, a vida nada mais é do que o conjunto de escolhas que realizamos constantemente.
Independentemente do caminho de cada um de nós ser mais linear ou mais tortuoso, o mais importante é que a evolução seja uma constante em busca da felicidade e da nossa melhoria como pessoas, para que, depois, sejamos capazes de contribuir para a melhoria dos outros e, consequentemente, da sociedade em que vivemos. Nunca devemos pensar na nossa ocupação profissional como uma obrigação ou uma espécie de castigo ao qual estamos vinculados, uma vez que temos contas para pagar. Devemos sentir prazer naquilo que fazemos. Devemo-nos sentir realizados e úteis no nosso dia-a-dia. Devemos evoluir, regenerar e cuidar de nós e dos outros com amor e equilíbrio, até porque, mesmo sem capa, todos podemos ser super-heróis, basta que olhemos para trás e reconheçamos que nunca é tarde para decidir sermos felizes.
Por Armanda Bragança