Há uns anos, num anúncio de uma conhecida marca de leite, ouvi uma frase que, até hoje, recordo: “Se eu não gostar de mim, quem gostará?”. Ainda que, naquela altura, não tivesse a capacidade para entender todas as dimensões que tal questão encerra, a verdade é que esta simples questão me acompanhou até hoje.
Atualmente, muito se fala de empatia, da capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, de entreajuda, partilha, espírito de equipa e do amor pelo próximo. Contudo, como lembra a frase, como posso eu amar outros, ser empática com outros e partilhar quem eu sou com os outros se não gosto de mim mesma? Se não me aceito como sou? Como quero que os outros valorizem as minhas qualidades e me ajudem a colmatar os meus defeitos, se eu própria não os aceitos e não sei lidar com eles? Não se trata de fingir ser outra coisa, ou de mudar quem somos para que gostem de nós ou para que nós próprios finjamos que está tudo. Trata-se, apenas da consciência de quem somos, do que somos capazes e de que pontos podemos melhorar.
A verdade é que, perante esta realidade, temos de ser capazes de nos aceitar e de nos amarmos na plenitude, com todas as nossas qualidades e, sobretudo, com os nossos defeitos, por muito assustador que isso possa parecer à partida. Isto porque, só perante essa consciência seremos capazes de potenciar as nossas qualidades e usá-las para alavancar o nosso sucesso, se essa for a nossa decisão. Sim decisão, porque toda a nossa vida se baseia em decisões, pelo que, só tendo essa consciência e aceitando a realidade, é que podemos decidir traçar um plano de melhoria e de mitigação dos nossos defeitos. Deixemos de lado aquela velha máxima do “Eu nasci assim”. Esta é apenas uma desculpa que damos aos outros e, sobretudo, a nós mesmos, para que não tenhamos de enfrentar a dureza dos nossos defeitos, a imagem que o espelho teima em refletir e que vai contra aquilo que sempre ambicionamos, como se fôssemos incapazes de a mudar ou, pelo menos, de a mitigar. Claro que existirão sempre defeitos ou questões que não gostamos tanto em nós que serão mais fáceis de melhorar que outros. Alguns parecer-nos-ão mesmo verdadeiras montanhas, quase intransponíveis, enquanto outros implicarão apenas pequenas mudanças no nosso comportamento, ou seja, nas decisões que tomamos, conscientemente, todos os dias. Perante este cenário, o segredo passa, mesmo, por sabermos escolher as nossas batalhas, e termos a capacidade para priorizar aquilo que acreditamos ser a melhor decisão para nós. Seja como for, a verdade é que, com uma elevada capacidade de autoconhecimento e com autoestima, somos imparáveis e capazes de tudo a que nos propusermos. Verdadeiros super-heróis sem capa, capazes de irradiarmos, com a nossa luz, os corações mais inóspitos para que, também neles, brote a semente da mudança.
Por Armanda Bragança