Porque temos de trabalhar?

Trabalhar é, para muitos, uma parte inescapável da sua vida adulta. Todos os dias, milhões de pessoas ao redor do mundo acordam cedo, enfrentam o trânsito, lidam com desafios e responsabilidades, e investem grande parte de seu tempo e energia em atividades profissionais. Contudo, afinal, por que precisamos trabalhar? Será esta apenas uma obrigação financeira? Ou existe algo mais profundo por trás desse hábito tão presente na nossa sociedade?

Sobrevivência: o motivo mais básico

A resposta mais imediata e prática para esta pergunta é a necessidade de sobrevivência que todos sentimos. Trabalhar é, para a maioria das pessoas, a principal forma de garantir um valor mensal que lhes permite pagar a casa, a alimentação, os transportes, cuidados de saúde e outras despesas básicas. A economia global está estruturada de forma que o trabalho seja o meio pelo qual obtemos acesso aos diferentes recursos. Sem ele, seria difícil — senão impossível — manter uma vida minimamente estável. Contudo, apesar deste ser um ponto essencial, a questão não se esgota, uma vez que, mesmo aqueles que já conquistaram estabilidade financeira continuam, muitas vezes, a trabalhar. Para quê?

Sustentabilidade coletiva

Além dos motivos individuais, há também razões coletivas. Numa sociedade complexa como a nossa, o trabalho de cada pessoa está interligado ao bem-estar das outras. Alguém planta, outro transporta, alguém vende, outro atende, outro cuida, outro ensina. O funcionamento da sociedade depende da colaboração entre os diferentes tipos de trabalho. Mesmo as atividades mais invisíveis ou subestimadas são fundamentais. Um varredor de rua, por exemplo, contribui diretamente para a qualidade da saúde pública. Um motorista de autocarro viabiliza deslocação de milhares de pessoas. Um professor forma as próximas gerações. Cada trabalho tem o seu papel no ecossistema social.

Trabalho e liberdade

Pode parecer contraditório, mas o trabalho — que muitas vezes é visto como uma forma de obrigação — também pode ser encarado como uma via para a liberdade. Ter uma fonte de rendimento própria permite-nos escolher onde viver, o que consumir, como investir o próprio tempo livre, que sonhos perseguir. Assim, ainda que o ideal fosse que todos tivesem essa liberdade garantida independentemente do trabalho, na prática, o emprego ainda é um dos principais meios de autonomia pessoal.

Mas… e o excesso?

Se é verdade que trabalhar é necessário e tem os seus benefícios, também é verdade que o excesso de trabalho pode ser prejudicial. A chamada “cultura do hustle” (do esforço incessante e constante), muitas vezes, transforma o trabalho num fim em si mesmo, e não num meio para uma vida melhor. Jornadas longas, pressão persistente, falta de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal podem levar à exaustão física e emocional. Assim, tão importante quanto trabalhar é saber dosear, descansar e desconectar. O ideal não é viver para trabalhar, mas trabalhar para viver — com dignidade, satisfação e tempo para outras dimensões da vida: família, lazer, saúde, amizades, espiritualidade.

E se o trabalho mudasse?

Nos últimos anos, novas discussões surgiram sobre o futuro do trabalho. A automação, o avanço da inteligência artificial, o aumento do trabalho remoto e a valorização de modelos mais flexíveis têm levantado uma questão importante: como podemos repensar o trabalho para que ele seja mais humano e sustentável? A resposta ainda está em construção. Mas, talvez o primeiro passo seja precisamente entender que o trabalho é parte da vida, mas não é toda a vida. Que ele deve servir as pessoas — e não o contrário.

Trabalhar é uma necessidade, sim. Mas é também uma oportunidade de crescer, de se conectar, de deixar uma marca no mundo. Mais do que uma obrigação, o trabalho pode ser uma forma de construir sentido. O desafio está em encontrar — ou criar — formas de trabalhar que respeitem os nossos limites, que estejam alinhadas com os nossos valores e que nos permitam viver de forma plena. Afinal, no fim das contas, não trabalhamos só para sobreviver — trabalhamos para viver bem.

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