Menos Stress, Mais Yoga

Não sei quanto a vocês, mas eu já tive dias em que, simplesmente, não dava mais. Acordava cansada, irritada, com o corpo pesado e a cabeça a mil. Tudo parecia urgente. Tudo exigia demais de mim. Vivia com a sensação de estar sempre a correr, ainda que nunca saísse do lugar. Foi aí que percebi: não era só cansaço. Era burnout.

Se se identifica com este cenário, antes de qualquer coisa, quero dizer-lhe algo simples, mas que talvez precise ouvir: você não está sozinho/a e existe uma saída à sua espera. No meu caso, uma das ferramentas que mais me ajudou nesse processo de voltar a encontrar-me — e que continuo a usar todos os dias — foi o yoga. E não, não a falar em fazer posturas mirabolantes ou na possibilidade de me ter tornado uma mestre da noite para o dia. Estou a falar do processo de encontrar, aos poucos, um lugar de pausa no meio do caos. Um espaço em que consigo respirar no meio do turbilhão. Foi este alívio e escape que o yoga me trouxe — e que lhe pode trazer a si também.

Contudo, antes de tudo, vale a pena questionar: o que é o burnout?

É pura exaustão: física, emocional, mental. É acordar já cansada, mesmo depois de horas passadas na cama. É sentir que tudo nos pesa e que nada noa consegue animar. O burnout, reconhecido pela OMS – Organização Mundial de Saúde, surge quando estamos demasiado tempo a viver sob pressão, tentando que tudo dê certo, ainda que não tomemos conta de nós mesmos. É o corpo a gritar aquilo que a mente ignorou por demasiado tempo.

O que acontece é que vamos ignorando os sinais e vamos, como se costuma dizer, empurrando com a barriga ou então enfiámos a cabeça no solo como se fossemos uma avestruz, esperando que os problemas desapareçam. Mais um café, mais um compromisso, mais uma meta alcançada. O problema é que chegará inevitavelmente o dia em que o nosso corpo não aguentará mais e teremos mesmo de parar — ou o corpo vai mesmo parar por nós.

Como o yoga entrou na minha vida (e pode entrar na sua)

Confesso: no início pensava que a prática de yoga era apenas para pessoas flexíveis e calmas, que tinham toda a sua vida planeada e resolvida. Naquela altura, eu era como um furacão interno com um sorriso forçado no rosto. Apesar disso, decidi tentar, sendo que comecei com aulas online, sem grandes pretensões. No início, tudo parecia lento, estranho, até desajeitado. Mas algo me fez continuar. E foi aos poucos, dia após dia, que percebi: a prática não alongava apenas o meu corpo — mas alongava o meu tempo interno.

O que o yoga fez por mim (e pode fazer por si)

1. Ensinou-me verdadeiramente a respirar

Respiramos constantemente, contudo quase nunca paramos para perceber de que forma o estamos a fazer. No yoga, a respiração é parte essencial da prática. Aprendi a respirar profundamente, com presença. E só isso já mudou muita coisa. Quando em sentia mais ansiosa, com um nó no peito, a mente acelerada… respirava. Era como apertar um botão de pausa.

2. Troquei o modo “piloto automático” pelo “modo presença

No burnout, vivemos em modo automático. Produzimos, entregamos, corremos, resolvemos — mas não vivemos. No yoga, aprendemos a desacelerar, a colocar maior atenção naquilo que realmente importa: o nosso corpo, emoções e pensamentos. Aqueles 30 minutos de prática que realizava eram, muitas vezes, o único momento do dia em que eu realmente estava comigo.

3. Dei um novo ritmo ao meu corpo e à minha mente

O yoga ativou algo dentro de mim que nem sabia que estava adormecido: o meu sistema nervoso parassimpático. É este o responsável pela regulação do descanso, digestão e recuperação. Quando vivemos em stress constante, apenas o sistema de “luta ou fuga” está no comando. O yoga é como uma conversa que temos com o nosso próprio corpo, onde ouvimos: “Está tudo bem, pode relaxar agora”.

4. Devolveu-me o sono, o humor e até o apetite

Claro que a mudança não aconteceu de um dia para o outro. Mas, depois de algumas semanas de prática, percebi que estava a conseguir dormir melhor. Sentia menos aquela ansiedade que me fazia comer sem fome ou perder o apetite por completo. Comecei a sentir-me mais inteira. Mais eu.

“Não sou flexível, posso fazer yoga na mesma?”

Claro que pode! Essa é uma das maiores mentiras que nos contam sobre o yoga. Para praticar não precisamos de encostar o pé na cabeça, nem fazer poses mirabolantes. O yoga é sobre presença, não performance. É sobre escutar o corpo, respeitar os nossos limites, e acolhermo-nos com gentileza. Até porque existem estilos de yoga mais suaves, como o Hatha, o Yin Yoga ou o Restorative, que são perfeitos para quem está esgotado e precisa de se reconectar com o seu corpo.

E se eu não tiver tempo?

Eu compreendo a dúvida. No meio da correria do nosso dia-a-dia, parar parece um luxo. Mas é justamente aí que o yoga faz mais sentido. Pode começar simplesmente com 10 minutinhos por dia. Pode ser de manhã, para começar o dia mais centrado. Ou à noite, para desligar a mente. Pode ser uma prática completa, ou apenas alguns minutos de respiração consciente. O importante não é a duração. É a consistência. É esse pequeno compromisso consigo mesmo. Esse espaço que cria para se ouvir.

Se eu puder deixar um recado...

Se está a sentir-se sobrecarregado, exausto, no limite: honre esse sentimento. Ele não é uma fraqueza. É um pedido de cuidado., sendo que o yoga pode ser uma forma de atender a esse pedido. Não como uma solução mágica, mas como um caminho — um processo de voltar para dentro, para si.

O yoga não é sobre mudar quem você é. É sobre lembrar quem você é, por baixo de todas as pressões, exigências e expectativas. Talvez esteja a precisar desta pausa agora. E está tudo bem começar e forma tímida: respirar, alongar, fechar os olhos por um instante. Este é o primeiro passo de muitos. E eu garanto: faz toda a diferença.

Sofia Novais – Professora de Yoga 

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