Todos já pensamos e nos indagamos: “Quem sou eu?”. Quem, durante toda a sua vida, nunca pensou nisso? Arrisco-me a dizer que ninguém. A questão é que esta é uma pergunta complexa, cuja resposta exige tempo, reflexão e, sobretudo, autoconhecimento. Claro que todos somos seres únicos, irrepetíveis e especiais. Por mais que se fale em igualdade, todos sabemos que esta é uma utopia e que nunca será atingida, independentemente dos nossos esforços, apenas porque é impossível de atingir. É verdade também que todos nós somos, hoje, o resultado daquilo que formos ontem e daquilo que pretendemos ser amanhã. Contudo, será que eu sei o que fui ontem? Sei e reconheço o que me fez chegar aqui, a reagir de determinada forma, a pensar certas coisas, a agir desta ou daquela forma? Na maior parte das vezes a resposta é não.
O processo do autoconhecimento é sinuoso e, por vezes, pode mesmo ser perigoso, uma vez que nos leva a reviver traumas e experiências menos positivas, que tanta dificuldade tivemos para ultrapassar. É duro e desafiante olhar para trás e perceber como aquela dor nos fez evoluir, como aquela rejeição nos deu mais força e como aquela montanha que tivemos de ultrapassar nos preparou para enfrentar, sem medo, uma ainda maior. É difícil olhar para trás e retirar de bom aquilo que todas as experiências nos trazem. A verdade é que, no limite, todas as experiências, mesmo as mais amargas, dão-nos um poder inestimável: o poder do conhecimento e da aprendizagem. Assim, por muito que nos custe, todos nós devemos fazer este exercício de autorreflexão e de autoconhecimento. Só se eu souber quem fui no passado é que poderei perceber o que sou hoje, sendo que, só dessa forma, conseguirei perceber de que forma poderei continuar a evoluir e a aprender. Só assim conseguirei determinar que competências devo adquirir, que arestas devo limar.
O autoconhecimento é, por isso, vital para a melhoria de cada um de nós enquanto pessoas, mas, também, para o aumento exponencial da qualidade do nosso relacionamento com os outros. Sem me conhecer verdadeiramente, como posso auspiciar conhecer o outro? Se eu não conheço os meus limites, como é que pretendo respeitar os do outro? Se eu não sei aquilo em que acredito e o que me fez acreditar, como posso defender determinado ponto de vista, com assertividade, no contacto com o outro? Não precisamos de viver com estas dúvidas e de enfrentar estas batalhas constantes. Precisamos apenas de parar e fazer um simples exercício de reflexão e introspeção, enfrentando, com coragem, todos e quaisquer monstros, que, em crianças, escolhemos deixar fechados dentro do armário. Arrisque e perceba quem é. Aceite quem verdadeiramente é e ame viver na sua pele®. Só depois de nos conhecermos é que estamos preparados para conhecer os outros.
Por Armanda Bragança