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Comunicação: O Coração da Prática Clínica

23 de Janeiro, 2025

Já parou para pensar na importância de uma boa conversa? Não falo daquelas que surgem como monólogos, daquelas desligadas, que seguem em piloto automático, daquelas que parecem cumprir um guião pré-definido! Falo da importância das conversas cujas palavras são verdadeiramente ouvidas, que tocam a alma e que podem fazer a diferença na vida de alguém!

Na saúde, essa conversa é ainda mais poderosa. Quando procuramos um profissional da área, ambicionamos ser ouvidos e entender o que se passa com o nosso corpo e o que podemos fazer para melhorar. E é aí que a comunicação entra em jogo! Um bom profissional da saúde sabe que ouvir é tão importante quanto examinar! É na conversa que se cria a relação de confiança e empatia que poderá atuar como facilitador ou bloqueador de todo o tratamento e, por isso é como se as palavras fossem o primeiro medicamento para curar o corpo, mas sobretudo o fármaco essencial para preparar a mente para todo o processo.

Uma boa conversa com o médico ou outro profissional da área pode transformar um diagnóstico difícil numa oportunidade de crescimento, pois, quando compreendido e valorizado, o paciente aumenta a sua confiança na pessoa que o acompanha, sentindo-se muito mais motivado para cuidar da sua saúde e a seguir, por exemplo, um determinado tratamento.

Mas como fazer isso? Como transformar uma consulta de saúde num momento de conexão verdadeira? A resposta está na arte da comunicação. É preciso saber ouvir, saber perguntar, saber explicar, de forma simples e clara, saber acolher as emoções do outro.

A saúde não é só sobre doenças, medicação e tratamentos. É sobre pessoas, sonhos e projetos, histórias de vida que moldam e contam quem somos. E para cuidar de pessoas, precisamos, também, de ser pessoas! A comunicação é, assim, uma das ferramentas mais importantes para a prestação deste cuidado. É a ponte que nos permite criar uma conexão empática com o nosso paciente, entender as suas necessidades, medos e desafios e oferecer as melhores condições possíveis para o tratamento.

E quando a notícia é difícil? Quando o diagnóstico a transmitir não é o esperado? É nestes cenários e momentos que a comunicação se torna ainda mais crucial! É preciso ter uma sensibilidade acrescida, é preciso selecionar o que dizer e saber transmitir esta informação de forma clara e objetiva, sempre com o máximo de empatia e tomada de perspetiva do outro. É preciso oferecer apoio e fazer sentir que estamos presentes para ajudar e acompanhar em toda a jornada.

Ainda que seja uma realidade do dia-a-dia de muitos profissionais de saúde, a comunicação de más notícias constitui um desafio complexo, se pensarmos no impacto que a mesma irá ter no paciente, na sua vida e na de todos os que o rodeiam, a par das implicações para o próprio profissional, em termos de emoções a gerir. 

Desenvolver competências na transmissão de más notícias, torna-se, assim, essencial para facilitar a aceitação e a compreensão dos pacientes e familiares, para evitar a perda de confiança dos mesmos, bem como reduzir o risco de respostas destrutivas.

Nesta arte de comunicar palavras que confortam ou com um poder extra de cura, percebemos que não é só o paciente que ganha com uma boa comunicação! Quando, como profissionais, somos capazes de comunicar de forma clara e eficaz e de nos colocarmos no lugar do outro, conseguimos construir uma relação de confiança e empatia, capaz de fazer a diferença na hora de enfrentar os desafios da área da saúde e, neste sentido, aumentar a nossa resiliência e o nosso sentido de competência profissional.

Investir na formação em comunicação é, por isso, inspirar uma saúde mais eficiente e sobretudo mais humana, pois na dança complexa da relação profissional-paciente, as palavras assumem um papel protagonista. Mais do que uma simples troca de informações, a comunicação tem um poder central na prática clínica, sendo capaz de construir pontes de confiança e aliviar angústias. Caminhando muito para além da linguagem técnica, o profissional da saúde pode oferecer conforto e esperança e, antes, uma linguagem de cura!

Mas como as palavras podem curar? Curam pela validação que podem transmitir dos sentimentos do paciente, mostrando um profissional empático e disponível para a criação de um ambiente seguro, que permite a expressão de emoções, muitas vezes difíceis de serem compartilhadas. Curam pela clareza, transparência e respeito com que são ditas, fortalecendo o vínculo entre profissional e paciente, gerando confiança e incentivando a adesão ao tratamento. Curam pelo envolvimento do paciente na tomada de decisões sobre seu tratamento, aumentando o seu sentido de importância enquanto agente ativo da sua própria saúde. Curam pelo papel que podem ter na redução da ansiedade do paciente, que passa a conseguir compreender mais facilmente a doença e o tratamento.

Ao utilizar as palavras como ferramentas de conforto e de cura, os profissionais da saúde podem transformar vidas e construir uma relação mais humana e significativa… sendo pessoas que cuidam de pessoas!

Por Ângela Bragança, Psicóloga

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