Já parou para pensar na importância de uma boa conversa? Não falo daquelas que surgem como monólogos, daquelas desligadas, que seguem em piloto automático, daquelas que parecem cumprir um guião pré-definido! Falo da importância das conversas cujas palavras são verdadeiramente ouvidas, que tocam a alma e que podem fazer a diferença na vida de alguém!
Na saúde, essa conversa é ainda mais poderosa. Quando procuramos um profissional da área, ambicionamos ser ouvidos e entender o que se passa com o nosso corpo e o que podemos fazer para melhorar. E é aí que a comunicação entra em jogo! Um bom profissional da saúde sabe que ouvir é tão importante quanto examinar! É na conversa que se cria a relação de confiança e empatia que poderá atuar como facilitador ou bloqueador de todo o tratamento e, por isso é como se as palavras fossem o primeiro medicamento para curar o corpo, mas sobretudo o fármaco essencial para preparar a mente para todo o processo.
Uma boa conversa com o médico ou outro profissional da área pode transformar um diagnóstico difícil numa oportunidade de crescimento, pois, quando compreendido e valorizado, o paciente aumenta a sua confiança na pessoa que o acompanha, sentindo-se muito mais motivado para cuidar da sua saúde e a seguir, por exemplo, um determinado tratamento.
Mas como fazer isso? Como transformar uma consulta de saúde num momento de conexão verdadeira? A resposta está na arte da comunicação. É preciso saber ouvir, saber perguntar, saber explicar, de forma simples e clara, saber acolher as emoções do outro.
A saúde não é só sobre doenças, medicação e tratamentos. É sobre pessoas, sonhos e projetos, histórias de vida que moldam e contam quem somos. E para cuidar de pessoas, precisamos, também, de ser pessoas! A comunicação é, assim, uma das ferramentas mais importantes para a prestação deste cuidado. É a ponte que nos permite criar uma conexão empática com o nosso paciente, entender as suas necessidades, medos e desafios e oferecer as melhores condições possíveis para o tratamento.
E quando a notícia é difícil? Quando o diagnóstico a transmitir não é o esperado? É nestes cenários e momentos que a comunicação se torna ainda mais crucial! É preciso ter uma sensibilidade acrescida, é preciso selecionar o que dizer e saber transmitir esta informação de forma clara e objetiva, sempre com o máximo de empatia e tomada de perspetiva do outro. É preciso oferecer apoio e fazer sentir que estamos presentes para ajudar e acompanhar em toda a jornada.
Ainda que seja uma realidade do dia-a-dia de muitos profissionais de saúde, a comunicação de más notícias constitui um desafio complexo, se pensarmos no impacto que a mesma irá ter no paciente, na sua vida e na de todos os que o rodeiam, a par das implicações para o próprio profissional, em termos de emoções a gerir.
Desenvolver competências na transmissão de más notícias, torna-se, assim, essencial para facilitar a aceitação e a compreensão dos pacientes e familiares, para evitar a perda de confiança dos mesmos, bem como reduzir o risco de respostas destrutivas.
Nesta arte de comunicar palavras que confortam ou com um poder extra de cura, percebemos que não é só o paciente que ganha com uma boa comunicação! Quando, como profissionais, somos capazes de comunicar de forma clara e eficaz e de nos colocarmos no lugar do outro, conseguimos construir uma relação de confiança e empatia, capaz de fazer a diferença na hora de enfrentar os desafios da área da saúde e, neste sentido, aumentar a nossa resiliência e o nosso sentido de competência profissional.
Investir na formação em comunicação é, por isso, inspirar uma saúde mais eficiente e sobretudo mais humana, pois na dança complexa da relação profissional-paciente, as palavras assumem um papel protagonista. Mais do que uma simples troca de informações, a comunicação tem um poder central na prática clínica, sendo capaz de construir pontes de confiança e aliviar angústias. Caminhando muito para além da linguagem técnica, o profissional da saúde pode oferecer conforto e esperança e, antes, uma linguagem de cura!
Mas como as palavras podem curar? Curam pela validação que podem transmitir dos sentimentos do paciente, mostrando um profissional empático e disponível para a criação de um ambiente seguro, que permite a expressão de emoções, muitas vezes difíceis de serem compartilhadas. Curam pela clareza, transparência e respeito com que são ditas, fortalecendo o vínculo entre profissional e paciente, gerando confiança e incentivando a adesão ao tratamento. Curam pelo envolvimento do paciente na tomada de decisões sobre seu tratamento, aumentando o seu sentido de importância enquanto agente ativo da sua própria saúde. Curam pelo papel que podem ter na redução da ansiedade do paciente, que passa a conseguir compreender mais facilmente a doença e o tratamento.
Ao utilizar as palavras como ferramentas de conforto e de cura, os profissionais da saúde podem transformar vidas e construir uma relação mais humana e significativa… sendo pessoas que cuidam de pessoas!
Por Ângela Bragança, Psicóloga
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