Adolescentes sob pressão

A adolescência é uma das fases mais desafiadoras da vida de qualquer pessoa. Este é um período de intensas transformações físicas, cognitivas, sociais e emocionais. O corpo muda, as hormonas oscilam, as responsabilidades aumentam e as relações interpessoais ganham uma nova complexidade. Assim, é expectável que, no meio de tantas mudanças, muitos adolescentes se sintam confusos, ansiosos ou sobrecarregados. É perante este cenário que uma eficaz gestão das emoções se torna uma habilidade fundamental — não apenas para o bem-estar imediato, mas também para a construção de uma vida adulta saudável. 

A pressão sobre os adolescentes 

Hoje, os adolescentes enfrentam pressões de múltiplas frentes. Na escola são avaliados pelo seu desempenho académico e, muitas vezes, são chamados a tomar decisões sobre o seu futuro profissional. Já em casa espera-se que os adolescentes apresentem comportamentos maduros, sejam responsáveis e colaborativos. Por outro lado, são constantemente expostos a padrões de beleza, sucesso e felicidade muitas vezes inalcançáveis nas redes sociais, o que pode gerar comparação, baixa autoestima e uma profunda sensação de inadequação. 

Muitos jovens enfrentam problemáticas como o bullying, conflitos familiares, discriminação ou falta de um sentimento de pertença. Somado a tudo isto, não podemos esquecer o impacto que a pandemia de COVID-19 teve na saúde mental de muitos adolescentes, intensificando sentimentos existentes de solidão, insegurança e incerteza. 

A questão é que se esta sobrecarga emocional não for bem administrada, pode resultar em problemas sérios como ansiedade, depressão, automutilação, abuso de substâncias ou comportamentos de risco. Por isso, ensinar os adolescentes a reconhecer, compreender e lidar com suas emoções é um passo essencial na promoção da sua saúde mental. 

O que significa “gestão emocional”? 

Gerir emoções não significa suprimi-las ou fingir que elas não existem. Pelo contrário, trata-se do desenvolvimento da capacidade que todos devemos ter para reconhecermos o que sentimos, para compreendermos de onde vêm esses sentimentos e encontrar a(s) forma(s) mais saudável(eis) de expressá-los e lidar com eles. Contudo, esta competência exige autoconhecimento, empatia, autocontrole, comunicação assertiva e resiliência, isto porque, quando um adolescente aprende a reconhecer e lidar com a sua tristeza, a sua raiva ou a sua ansiedade, ele torna-se mais capaz de responder a essas emoções com consciência e equilíbrio, em vez de agir impulsivamente. Por exemplo, um jovem que se sente rejeitado por um grupo de amigos pode, em detrimento de se isolar ou explodir em raiva, refletir sobre os seus sentimentos, conversar com alguém de confiança e procurar estratégias para lidar com o ocorrido. Esta habilidade pode parecer simples, mas é fruto de um processo de aprendizagem que envolve orientação, prática e aceitação. 

Emoções e desenvolvimento do cérebro 

Durante a adolescência, o cérebro passa por uma intensa reorganização. A região límbica, responsável pelas emoções e pela procura de recompensas, desenvolve-se mais rapidamente que o córtex pré-frontal, que é responsável pelo planeamento, julgamento e controlo dos impulsos. É este facto que ajuda a explicar por que razão muitos adolescentes têm reações emocionais intensas ou comportamentos impulsivos. Assim, perante esta realidade biológica, torna-se ainda mais importante oferecer suporte emocional, educação socioemocional e espaços de escuta aos adolescentes. A gestão das emoções não é algo que sejam capazes de aprender sozinhos, por instinto. É necessário que pais, educadores e profissionais de saúde mental estejam atentos a esta necessidade e preparados para atuar como guias e modelos. 

O papel da escola e da família 

Neste contexto, a escola também desempenha um papel fundamental no desenvolvimento emocional dos adolescentes. Mais do que um espaço de ensino académico, a escola deve ser um ambiente seguro onde os jovens possam aprender sobre si mesmos, sobre os outros e sobre como lidar com os desafios emocionais da vida. Programas de educação socioemocional, projetos interdisciplinares e ações direcionadas à saúde mental contribuem diretamente para essa aprendizagem. Além disso, professores e funcionários capacitados para lidar com questões emocionais também fazem toda a diferença no quotidiano escolar.  

Contudo, apesar de sua importância crescente, as chamadas soft skills — como empatia, escuta ativa, colaboração, pensamento crítico e a própria gestão emocional —são ainda pouco valorizadas ou ensinadas de forma estruturada nas escolas. O foco tradicional no desempenho académico deixa pouco espaço para o desenvolvimento destas competências que são fundamentais para o sucesso pessoal e profissional no século XXI. Aprender a lidar com frustrações, comunicar com clareza, resolver conflitos ou trabalhar em equipa são habilidades tão essenciais quanto saber resolver uma equação. Ao negligenciar estas áreas, o sistema educativo deixa lacunas importantes na preparação dos jovens para a vida real, tornando ainda mais urgente o papel da família, de projetos extracurriculares e de políticas públicas voltadas à educação integral. 

Já no ambiente familiar, a escuta ativa, a aceitação sem julgamentos e o diálogo aberto são práticas poderosas. Muitas vezes, os adolescentes não precisam de respostas prontas, mas sim de alguém que os ouça com empatia e os ajude a refletir sobre o que estão a sentir. Mostrar que sentir medo, tristeza ou frustração é normal — e que existem formas saudáveis de lidar com essas emoções — é uma forma de ensinar pelo exemplo. 

 

Benefícios a longo prazo 

Adolescentes que desenvolvem competências emocionais apresentam uma maior probabilidade e se tornarem adultos equilibrados, resilientes e empáticos, mais propensos a construir relações saudáveis, a lidar melhor com o stress e a tomar decisões mais conscientes. Além disso, estudos mostram que a inteligência emocional está diretamente relacionada com o desempenho académico e profissional. Pessoas emocionalmente competentes têm mais facilidade em trabalhar em equipa, liderar, comunicar de forma eficaz e enfrentar desafios com criatividade. A gestão das emoções é também um fator de proteção contra o desenvolvimento de transtornos mentais. Quando um jovem aprende a pedir ajuda, a cuidar de si e a reconhecer os seus limites, reduz, significativamente, os riscos de aparecimento de uma desordem do foro psíquico. 

Caminhos possíveis 

É por tudo isto que promover a gestão emocional entre adolescentes exige uma ação conjunta e contínua. Algumas estratégias incluem: 

  • Educação emocional desde cedo: quanto mais cedo a criança começa a aprender sobre emoções, mais natural se torna esse processo na adolescência. 
  • Espaços seguros de escuta e aceitação: criar ambientes onde o adolescente se sente à vontade para expressar o que sente. 
  • Diálogo aberto sobre saúde mental: quebrar tabus e normalizar o cuidado emocional. 
  • Atividades que promovam o autoconhecimento: como meditação, escrita, arte ou desporto. 
  • Apoio profissional quando necessário: psicólogos e terapeutas podem ajudar a lidar com emoções mais intensas ou persistentes. 

A adolescência, por si só, já é um terreno fértil para emoções à flor da pele. Num mundo cada vez mais acelerado e cheio de mudanças, ensinar os adolescentes a gerir as emoções não é apenas uma escolha, mas uma necessidade urgente. Trata-se de prepará-los não só para os desafios da juventude, mas também para a vida adulta — com mais equilíbrio, consciência e humanidade. Porque aprender a sentir é, em última instância, aprender a viver melhor. 

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