E mais um ano se passou… Olhamos para trás e não nos conseguimos lembrar da maior parte dos 365 dias que passaram, das 8760 horas que foram vividas, dos 524600 minutos que gastaram e que nunca iremos conseguir recuperar. O tempo correu, não esperou e os dias sucederam-se sem que, muitas vezes, nos tivéssemos apercebido. Muitos destes dias acabaram por não ser verdadeiramente vividos, mas apenas sobrevividos, já que funcionámos quase como robots, em modo de piloto automático, sem ter tempo para parar, sentir e apreciar a beleza das pequenas questões e coincidências da vida. Claro que outros momentos houve que marcaram o nosso ano, seja de forma positiva ou negativa. Lembramos com carinho e amor alguns desses fragmentos, com tristeza e saudade outros tantos. Pessoas entraram nas nossas vidas, outras tantas saíram. Famílias aumentaram, enquanto que outras lidaram com perdas.
Independentemente de como tenha sido o ano de cada um de nós, acredito que, caso tivéssemos a capacidade ou a possibilidade de viajar no tempo, não perderíamos a oportunidade de voltar atrás e agir de forma diferente em determinada situação, de não dizer aquela palavra proferida, de não estar ali naquele dia, naquele lugar, àquela hora. Acredito que, caso tivéssemos essa possibilidade, mudaríamos a narrativa e faríamos diferente muitas coisas. Contudo, certo é, que se isso acontecesse também nós seríamos diferentes, uma vez que aquilo que somos hoje é um resultado do que fomos ontem e um vislumbre do que seremos amanhã. Assim, se mudássemos o nós de ontem, o eu de hoje teria de ser forçosamente diferente.
Claro que ninguém gosta de sofrer, de sentir uma perda, de se arrepender de algo que fez ou disse. Ninguém gosta de atravessar fases menos boas, tomar decisões difíceis e/ou romper relações com aqueles que conscientemente sabemos que não nos fazem bem, apesar de desejamos desesperadamente que a realidade fosse diferente. Contudo, é também inegável que são esses momentos menos bons, de desafio, crescimento e introspeção que nos fazem valorizar, ainda mais, os instantes extraordinários que vivemos. A verdade é que a vida é regida por um equilíbrio sensível entre o bom e o mau, a noite e o dia, a esperança e o ceticismo, o Yin e o Yang, forças através das quais todo o universo é regido, numa alternância de acordo com um movimento cíclico de altos e baixos. “Os caracteres chineses para o Yin e para o Yang estão relacionados com o lado escuro e o claro de uma colina ou montanha. O caracter Yin indica o lado sombrio, escuro, ao passo que o caracter Yang indica o lado claro, ensolarado da montanha. (…) Então, o desenrolar de todos os fenómenos no Universo resulta de uma inter-relação entre dois estados opostos”. Este equilíbrio perfeito é quase uma utopia.
Contudo, costumo dizer também que até os momentos menos bons são importantes, uma vez que, no limite, trazem-nos sempre o poder do conhecimento e da aprendizagem, já que nos permitirão aprender e evitar que cometamos o mesmo erro no futuro. Com o erro podemos aprender muito, basta que estejamos atentos e abertos à mudança. Claro que algumas cabeçadas que damos na vida nos doem bem mais do que outras. Casos há em que queremos negar a realidade, além do que seria aconselhado, esperando sempre que o milagre aconteça e que percebamos que afinal tudo aquilo não passou de um pesadelo. Porém, quase nunca esse milagre acontece e, mais cedo ou mais tarde, somos obrigados a aceitar o inegável peso da realidade que surge e quase nos atropela sem pedir licença.
Seja como for, sempre ouvi dizer que nunca nos devemos arrepender daquilo que fazemos, mas sim daquilo que não fizemos. Isto acontece porque se pressupõe que as decisões foram tomadas de forma consciente e ponderada. Assim, se naquele momento, escolhemos aquela decisão porque julgamos que esta seria a melhor a tomar, depois não nos devemos arrepender, mesmo quando o tempo nos prova que estávamos errados, até porque nunca teremos como garantir que seria diferente caso a nossa decisão tivesse sido outra. Isto acontece porque só conseguimos controlar o nosso comportamento e as nossas decisões e nunca as dos outros, mesmo que sejamos líderes numa empresa ou numa comunidade. Ou seja, mesmo que tomemos determinada decisão e impúnhamos determinada guerra, aqueles que nos seguem têm o livre arbítrio de decidir cumprir ou não os nossos desígnios, o que faz com que a decisão final seja sempre de cada um, por muito que, por vezes, nos desse jeito atirar a culpa para cima de outros. A menos que estejamos sob ameaça de alguma arma, faca ou outro tipo de artefacto, ou que o nosso discernimento esteja afetado por uma qualquer substância que fomos erradamente induzidos a ingerir, as decisões são sempre completamente nossas, pelo que devemos estar conscientes e disponíveis para aceitar as consequências que estas acarretam.
Assim, em 2025, estejamos, sobretudo, presentes e vivamos cada dia ao máximo retirando o devido prazer de pequenos momentos como o riso efusivo de uma criança, um belo pôr do sol ou o cheiro a terra molhada. Permitamo-nos sair da azáfama dos dias corridos, parar e simplesmente absorver tudo aquilo que nos rodeia. Permitamo-nos esquecer, por breves momentos, os problemas que nos assolam e concentrarmo-nos apenas no aqui e agora, estando realmente presentes enquanto um todo. Permitamo-nos estar com aqueles que mais amámos e não continuemos a adiar aquele café, aquele lanche ou aquele jantar porque parece que nunca temos o tempo necessário para fazer tudo aquilo que gostaríamos. Permitamo-nos relaxar e, no verão, sentir o calor escaldante do sol no rosto que nos torna a pele mais bronzeada e, no inverno, sentir esse mesmo sol aquecer o nosso corpo enquanto tudo à nossa volta está coberto de branco pintado pelo frio do dia. E, sobretudo, permitamo-nos continuar a sonhar, a aprender, a evoluir porque, tal como dizia o poeta, “sempre que o homem sonha, o mundo pula e avança como uma bola colorida nas mãos de uma criança”. Por isso, nunca nos esqueçamos que cada novo ano traz-nos mais 365 oportunidades para nos tornarmos melhores seres humanos, para evoluirmos, para aprendermos, para tentarmos ser sempre mais e melhor. Cada novo ano traz-nos 365 novas folhas de um livro em branco à espera de ser escrito e nele guardar as nossas melhores memórias. Cada novo ano traz-nos 365 novos dias em que podemos fazer diferente, em que podemos escolher não cometer os erros do passado e mostrar a todos que aprendemos com eles. Cada novo ano traz-nos 365 possibilidades que se multiplicam muito muitas mais, já que cada decisão que tomarmos nos vai conduzir por um caminho diferente, caminho esse que ditará quem seremos no próximo dia 27 de dezembro de 2025. Por isso disfrute, sinta e ame viver na sua pele, uma vez que esta é a única oportunidade que terá para viver esta experiência inesquecível que é a vida.
Por Armanda Bragança